Campanhas - CNBB

Eu vim para servir

Por Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas – TO

“Quero uma Igreja solidária, servidora e missionária, que anuncia e saiba ouvir. A lutar por dignidade, por justiça e igualdade, pois, “eu vim para servir”.

“Eu vim para servir!” Além de ser este o texto bíblico da auto-revelação da identidade, da autoridade, da vocação e da missão de Jesus, é também o texto que a Igreja católica, no Brasil, toma como eixo-condutor da Campanha da Fraternidade que, este ano, tem como tema: “Fraternidade, Igreja e Sociedade”, e como o lema: “Eu vim para servir” (Cf. Mc 10,45).

“Eu vim para servir” é a carteira de identidade de Jesus. Esta foi a resposta de Jesus aos discípulos quando se lhe perguntaram quem seria o maior e o primeiro dentre eles. Existem muitos textos bíblicos que identificam Jesus. Mas este é o seu retrato falado. De fato, Ele viveu esta sua identidade, autoridade, vocação e missão nascendo numa manjedoura em Belém, como pobre; realizando o seu primeiro êxodo, com seus pais, no Egito, para não morrer assassinado, ainda criança, por Herodes; crescendo em estatura, sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens; morando cerca de trinta anos, no anonimato e no silêncio, em Nazaré; saindo de casa, após o batismo no Rio Jordão, para evangelizar os pobres, libertar os presos, recuperar a vista dos cegos, dar liberdade aos oprimidos e anunciar o ano da graça do Senhor; escolhendo discípulos para colaborar com sua missão; amando, acolhendo a todos, curando os que sofriam de enfermidades e ressuscitando os que haviam morrido; lavando os pés dos discípulos; fazendo a vontade do Pai, em tudo, até a morte, e morte de cruz; morrendo como o grão de trigo debaixo da terra (Jo 12,24), para dar frutos, para dar vida; ressurgindo para a vida eterna; em suma, dizendo: “eu vim para servir”, “para que tenham vida e a vida em abundância”.

 “Eu vim para servir” é a carteira de identidade, da autoridade, da vocação e da missão da Igreja.Ao comemorar os 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja, no Brasil, com esta Campanha da Fraternidade pretende rever, atualizar e aprofundar a sua presença e atuação na sociedade brasileira. É objetivo desta Campanha aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.

A Igreja com esta Campanha deseja cumprir fielmente esta sua missão. Uma Igreja que não esteja a serviço da sociedade é uma Igreja que trai o seu fundador. Como disse o papa Francisco: “o Senhor quer que façamos parte de uma Igreja que saiba abrir os braços para abraçar a todos, que não seja a casa de poucos, mas de todos, onde todos possam ser renovados, transformados e santificados pelo seu amor: os mais fortes e os mais fracos, os pecadores, os indiferentes e a quantos se sentem desanimados e perdidos. Uma Igreja que se fecha em si mesma e ao seu passado, que só considera as pequenas regras de hábitos e de atitudes, é uma Igreja que trai a sua própria identidade”.

“Eu vim para servir” é também a carteira de identidade e da missão do cristão. Ser cristão é ser servo e servidor como Jesus foi (Mc 10,45). Ser servo e servidor é ser o prior, ou seja, o primeiro no amor, na caridade e no serviço aos outros como fez também Jesus (Mc 10,44). De fato, o cristão é a imagem e semelhança de Jesus. Este seu viver para servir serve de base para todos os relacionamentos humanos. Serve, sobretudo, para quem ocupa liderança na Igreja e na sociedade. Palavras do papa Francisco aos novos cardeais: “que o povo de Deus veja sempre em nós a firme denúncia da injustiça e o serviço alegre da verdade”.

 É muito cômodo para a Igreja ficar sentada, de portas e de braços cruzados, a espera de quem a procure ou então simplesmente condenando a quem não pensa como nós. Jesus não ficou em Nazaré à espera de quem o procurasse. Andou, foi atrás das pessoas e chegou à realidade em que viviam. Uma Igreja em saída é uma Igreja convicta de que não pode guardar para si o que Deus oferece a todos. É necessário, portanto, que a Igreja saia da zona de conforto, do trivial e da mesmice e vá às periferias existenciais e geográficas, aonde os homens e as mulheres vivem, trabalham e sofrem, e anuncie-lhes a misericórdia do Pai que se deu a conhecer aos homens em Jesus Cristo de Nazaré.

Eu também vim para servir. Não é fácil servir. É mais fácil ser servido. No entanto, é esta a nossa missão. Para que tudo isto aconteça, precisamos rezar mais e melhor: “Ó Pai, alegria e esperança de vosso povo, vós conduzis a Igreja, servidora da vida, nos caminhos da história. A exemplo de Jesus Cristo e ouvindo sua palavra que chama à conversão seja vossa Igreja testemunha viva de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz.Enviai o vosso Espírito da Verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo justo e solidário, sinal do Reino que há de vir. Por Cristo Senhor Nosso. Amém!”

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