CAMPANHA DA FRATERNIDADE 1987
A Fraternidade e o Menor

O objetivo geral:
Para a recomposição do tecido ético e cultural de nossa sociedade, além de um especial processo de conversão de cada um de nós e das justas reivindicações econômicas, vai ser preciso, a partir das nossas comunidades cristãs, reassumir os compromissos libertadores que integram a fé. Um dos importantes caminhos que se apresentam é buscar a transformação evangélica da pessoa e da sociedade, a partir da questão do Menor, colocando-o, portanto, no centro de nossas comunidades e de nossos projetos.
Carta de Sua Santidade o Papa João Paulo II
Caríssimos Brasileiros!
Irmãos e irmãs:
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
“Quem acolhe o menor, a mim acolhe.” Com palavras equivalentes, isto foi dito por Cristo, que esculpiu como síntese do seu Reino: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34), pois “todos vós sois irmãos” (cf. Mt 23,8). Em dois mil anos de Cristianismo, o mundo só mediocremente assimilou esta doutrina do “bom Mestre”. Os homens continuam a se afastar e afastam os outros dos caminhos da fraternidade.
Quaresma é tempo de conversão: de acolhida a Jesus Cristo na sua Páscoa, no mistério central e culminante da sua “passagem” entre nós, que é a sua morte e ressurreição. Somos convidados a confrontar nossas vidas com a sua mensagem. E, cada ano, a Igreja que está no Brasil é exortada a fazê-lo em referência a um tema vital, pela Campanha da Fraternidade. Neste ano, o tema é o menor, sobretudo o menor visto como “empobrecido”, “Quem acolhe o menor, a mim acolhe”.
O “menor quer dizer: a criança e o adolescente, “a primavera da vida, a antecipação da história futura de cada pátria terrestre”. Nenhum povo pode pensar no seu futuro abstraindo da imagem real das novas gerações. Por isso, a solicitude pelo menor – pela criança, ainda antes do nascimento, desde a concepção, e depois na infância e na adolescência — comprova a estima e o tipo de relação do homem para com o homem, em cada povo: é a esperança, ou a incerteza, de um futuro melhor!
Quando Jesus garantia o Reino dos céus aos “pequeninos” (cf. Mc 10,14), não estava apenas apresentando as crianças como modelos de inocência e simplicidade; mas estava expressando que o Reino estará “no meio de nós”, quando por um imperativo do coração, guiado por fé esclarecida, todos nos tornarmos “pequeninos”; e os “pequeninos”, os últimos, os que “não produzem” tiverem lugar na “família “, tiverem o amor preferencial que a sua dignidade de pessoas exige, na sua condição de “pobres “.
No quadro da situação do menor no “imenso Brasil, as estatísticas falam de números muito elevados de menores, objetivamente pobres, marginalizados e abandonados: tais números são indício de males que importa remediar, pois salvar o menor é escolher, valorizar e celebrar a vida e afugentar sombras de morte. Mas para isso, é preciso descer da montada, como o “bom samaritano”, com humildade e amor, e debruçar-se sobre a vida do irmão, em atitude de dom, movidos pelo valor da vida e do lugar da vida na hierarquia dos valores.
Amados Brasileiros:
É bom termos um Pai, Deus, que nos ama. Ele tem sempre seus braços abertos para acolher e as mãos cheias de bondade, misericórdia, amor e salvação (cf. Lc 15,17). Quaresma é tempo forte de encontro ou reencontro com Ele, é tempo de conversão: conversão sincera e radical, abrangendo as dimensões comunitárias da vida e da fé: conversão exigente, mas libertadora, na medida em que o “outro” for para nós, cada vez mais, presença de Jesus Cristo, identificado com o irmão carente: “a mim o fizestes”, e, sobretudo, conversão amorosa: o amor existe e sobrevive, apesar de tudo, no chão silencioso de muitos corações; mas só terá plenitude no relacionamento coerente, de cada pessoa e de cada comunidade, com o Amor (Ef; 1Jo 4,16): o Amor do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.
Que a Campanha da Fraternidade sirva para abrir os corações a Deus e às sementes da Páscoa, que aí desabrochem em misericórdia, frutificando em justiça, bondade, amor e fraternidade, com a minha bênção:
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.